Preso em operação que investiga desvio bilionário de criptomoedas diz que ‘Rei do Bitcoin’ era a ‘evolução do estelionatário’

Redação Litorânea
A RPC teve acesso aos depoimentos de três pessoas que foram presas em uma operação que investiga o desvio de cerca de R$ 1,5 bilhão em negociações que simulavam a compra e venda de criptomoedas, controladas por Cláudio José de Oliveira, conhecido como “Rei do Bitcoin”.
Entre as pessoas que foram ouvidas está Rodrigo Martinelli Laport, que emprestou dinheiro a Cláudio diversas vezes. Ele afirmou que considera Cláudio uma “evolução do estelionatário”.
A Justiça já autorizou que Laport seja solto. Ele disse também que não sabia das irregularidades nas empresas de Cláudio, e que apenas emprestava dinheiro a ele como oportunidade de negócio, com bens como relógios, usados como garantia.
“Qual o sinal que você vê que é um estelionato? Quando acontece realmente, o cara some, não tem nada no nome dele. Você vai ver o cara não tem conta, apartamento, carro, não tem nada. E no caso dele tinha casa, um monte de coisa na declaração, os carros. Então, eu achei teoricamente que o cara era a evolução do estelionatário, o estelionatário 2.0, que ele deixa umas migalhas para disfarçar de um bolo maior que está com ele. Só que com o tempo, a gente foi vendo que não era isso, porque não era possível o cara com um bolo maior guardado e pedindo R$ 100 emprestado porque não tinha dinheiro para botar gasolina”.
Outra pessoa que foi presa na segunda-feira é a esposa de Cláudio José de Oliveira.
Contudo, em depoimento, Lucinara Oliveira explicou que só é casada com Cláudio no papel, mas que não é mais esposa dele de fato. Ela disse que ele tentou resolver os problemas do grupo quando as contas dos clientes foram bloqueadas e eles não conseguiram mais sacar o dinheiro que tinham. A Justiça também já autorizou que ela seja solta.
“Ele trabalhou muito, lutou muito, correu muito atrás, tentou de todo jeito, tentou fazer um acordo com os clientes. Eu não sei quando que finalizaram os acordos, mas acredito que não deu certo. Mas eu sei que ele tentou na Justiça, ele tentou pagar. Isso era o que ele me dizia”.
Uma funcionária da empresa também foi presa na segunda-feira. Cibele Golo teve um relacionamento amoroso com Cláudio, e a polícia apontou diversos presentes dados à ela pelo empresário, inclusive uma pulseira de quase R$ 50 mil usada durante o depoimento. Cibele afirmou que quando os problemas da empresa com a Justiça começaram, o grupo não conseguia mais pagar os clientes. A polícia pediu a prorrogação da prisão temporária de Cibele. A justiça quer que o Ministério Público se manifeste para, então, decidir.
“Tinha muitas questões técnicas, tinha muito problema, saldo duplicado, tinha clientes com valores maiores, tinha muita gente sacando. Foi na época que foi acionada a Polícia Federal, daí começou a dar problema no banco, começou a dar problema de pagamento, não conseguia pagar ninguém. Toda vez que a gente tentava pagar alguém, dava problema. Então, aí começou a crise, a gente não conseguia pagar as pessoas. Aí as pessoas reclamavam, aí a gente dava uma desculpa para falar que a gente estava tentando resolver o problema, mas toda vez que a gente tentava resolver um, criava outro”. O advogado de Cláudio José de Oliveira disse que vai se manifestar nos autos do processo.
Falência de empresas
A 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba decretou, na quarta-feira (7), a falência das empresas que compõe o Grupo Bitcoin Banco. A decisão abre o processo de falência de oito empresas que compõem o grupo.
Com a decretação, o grupo deve apresentar, em até cinco dias, uma relação de todos os credores do grupo. A estimativa divulgada pela PF é que até 7 mil clientes tenham sido vítimas dos desvios da corretora.
O despacho determina também que o grupo apresente, em até 60 dias, um plano detalhado de realização dos ativos das empresas.
A Vara de Falências e Recuperação Judicial pediu à Justiça Federal que informe uma relação com todos os bens apreendidos pela operação de segunda-feira (5). Eles podem ser usados para ressarcir credores ao longo do processo de falência.
De acordo com o documento, o grupo tinha feito um pedido de recuperação judicial, mas a Justiça entendeu que o processo era “uma estratégia do Grupo para a blindagem de constrições patrimoniais”.
Investigação
O grupo passou a ser investigado em 2019, após o proprietário registrar um boletim de ocorrência afirmando que havia sido vítima de um ataque cibernético. À época, os valores de todos os credores foram bloqueados pela empresa.
Com o passar das investigações e com a falta de colaboração do proprietário da empresa, a Polícia Civil e o Ministério Público do Paraná desconfiaram que o ataque cibernético era falso e que o grupo havia cometido crimes, como estelionato.
Após denunciarem o suposto ataque cibernético, o grupo suspeito prometeu aos credores que devolveria os valores bloqueados em parcelas. Apesar disso, segundo a PF, os valores nunca foram quitados. Ainda em 2019, a Justiça concedeu ao grupo uma ordem de recuperação judicial, o que interrompeu as ações cíveis que a empresa respondia.
Durante o processo, no entanto, segundo a PF, o grupo prestou informações falsas e enganou o Judiciário.
Segundo o delegado que comentou a operação, um dos investigados informou à Justiça que tinha 7 mil criptomoedas. A informação, no entanto, era falsa. No ano seguinte, as investigações identificaram que o grupo negociava contratos de investimento coletivo sem registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Com isso, a PF passou a apurar o caso. As investigações levantaram a suspeita de que o líder do grupo desviava os valores dos clientes para benefício próprio. Segundo a polícia, o grupo usava um sistema próprio que apenas simulava a negociação das criptomoedas.
Para atrair investidores, os suspeitos ostentavam bens de luxo e faziam grandes eventos. Conforme a PF, o líder do grupo possui uma condenação na Suíça por crimes de estelionato e falsificação de documentos.

Fonte: G1 Paraná.

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