Uma pesquisa encomendada pela Proteste — Associação Brasileira de Defesa do Consumidor — revelou que algumas marcas de pão de forma apresentam um teor significativo de etanol, ultrapassando o limite permitido para que o produto seja considerado não alcoólico. Esta descoberta gerou preocupação entre motoristas sobre a possibilidade de consumo do pão de forma resultar em uma detecção de álcool no sangue em testes de bafômetro, potencialmente tornando-os inaptos para dirigir.
Para esclarecer essas preocupações, o Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran) da Polícia Militar do Distrito Federal realizou testes públicos nesta segunda-feira (22). Os resultados demonstraram que, embora o pão de forma possa, de fato, “aparecer” no bafômetro, isso só ocorre se o teste for realizado imediatamente após o consumo, o que não corresponde às práticas padrão de abordagem policial.
“Existe uma fase que precede a aplicação do teste, que é a entrevista. A abordagem começa justamente tendo uma entrevista com o condutor, conversando com ele, procurando saber se ele ingeriu bebida alcoólica, se ele eventualmente estava em uma festa e consumiu álcool, para poder entender o contexto que se apresenta ali naquela situação”, explicou o major Wanderson Roldão. “O próprio tempo de conversa já é um tempo razoável para que esse álcool presente na boca da pessoa se dissipe”, acrescentou.
Os testes da PMDF indicaram que, no caso de consumo de uma fatia de pão de uma marca específica, três minutos são suficientes para que o teor de etanol não mais influencie o resultado do bafômetro. “A gente repetiu os testes de minuto em minuto até ver em qual momento em que ele apresenta o resultado zero no equipamento. No terceiro teste, o equipamento já trouxe o resultado zerado”, afirmou o terceiro-sargento Arthur Salgueiro.
Além do pão de forma, os testes mostraram que outros produtos, como enxaguantes bucais e sprays de própolis, também podem momentaneamente afetar o bafômetro, mas igualmente se dissipam após alguns minutos.
A orientação da PMDF para motoristas que não ingeriram bebida alcoólica é aceitar fazer o teste do bafômetro. Caso o primeiro teste indique a presença de álcool e o motorista esteja convicto de que não consumiu álcool, ele pode solicitar um novo teste alguns minutos depois.
“O reteste não é previsto na legislação, mas a gente não vai deixar de fazer, justamente para prestar o serviço de qualidade à comunidade. E ali, se ela estiver falando a verdade, vai ser demonstrado que o ar era somente aquele da mucosa bucal e o teste vai dar zerado em apenas três minutos”, reforçou o coronel Edvã Sousa, comandante do CPTran.
A legislação atual prevê multa de dez vezes o valor da infração gravíssima e suspensão do direito de dirigir por 12 meses para aqueles flagrados dirigindo sob efeito de bebida alcoólica. Se o bafômetro acusar mais de 0,34 miligramas de álcool por litro de ar, o motorista também estará sujeito a sanções penais e condução à delegacia.
“Na verdade, o que a gente mais quer é que as pessoas não morram nas vias distritais. A busca da fiscalização é justamente perceber aquelas pessoas que estão sob influência de álcool. Então, a avaliação é feita a partir do ar do pulmão e não daquela concentração que possa haver na mucosa da boca. A gente já tem essa percepção e o sentido é efetivamente promover justiça”, concluiu o major Roldão.