O coração embalsamado de Dom Pedro 1°, primeiro imperador do Brasil, chegou a Brasília nesta segunda-feira (22/8) para as comemorações do bicentenário da independência do país. O coração, que está conservado há 187 anos em um frasco de vidro com formol, viajou a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, trazido do Porto, em Portugal, onde fica guardado na igreja de Nossa Senhora da Lapa.
A relíquia chegou a Brasília acompanhada pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira. Nesta terça-feira (23/8), o coração será recebido no Palácio do Planalto e, em seguida, haverá cerimônia no Palácio Itamaraty, com a presença do corpo diplomático estrangeiro. O coração ficará exposto para visitação pública no Palácio Itamaraty de 25 de agosto a 5 de setembro e retornará ao Porto em 8 de setembro, segundo nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores. Como personalidade ‘explosiva’ de D. Pedro 1º moldou a história do Brasil.
A Câmara Municipal do Porto autorizou a transferência do órgão preservado para as comemorações do bicentenário do Brasil. Moreira disse que a relíquia voltará a Portugal depois de aproveitar “a admiração do povo brasileiro”. “O coração será recebido como um chefe de Estado, será tratado como se Dom Pedro 1° ainda vivesse entre nós”, disse o chefe do cerimonial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Alan Coelho de Séllos. Haverá uma saudação com tiros de canhão e a relíquia será recebida com uma guarda de honra e todas as honras militares. “O Hino Nacional [será tocado] e o Hino da Independência, que por sinal foi composto por Dom Pedro, que além de imperador era um bom músico nas horas vagas” disse Séllos
Conheça a história sobre o coração de D. Pedro I
Antes de morrer, o primeiro imperador do Brasil deixou de D. Pedro em testamento a intenção de que seu coração ficasse na cidade com a qual ele tinha intensa relação, pois lá viveu pelos 13 meses (de julho de 1832 a agosto de 1833) que duraram disputa de poder entre ele e seu irmão, Dom Miguel. O rei-imperador faleceu no dia 24 de setembro de 1834, aos 35 anos. Quando de sua morte, ela já havia abdicado de suas coroas em favor dos filhos e assumido o título de duque de Bragança, antes de retornar definitivamente para sua pátria de nascimento e reclamar o trono português em nome de Dona Maria II.
Foram batalhas sangrentas as que se seguiram entre Pedro e Miguel, porém o duque de Bragança sairia vitorioso da querela, reencontrando em 1833 suas filhas e consorte. O que ele não sabia, contudo, é que sua longa carreira de intensas atividades físicas e militares acabariam por cobrar o seu preço. Tendo duas costelas fraturadas, e com o coração e o fígado hipertrofiados, D. Pedro faleceu naquela tarde de setembro de 1834, no palácio de Queluz (o mesmo em que nascera), nos braços de sua esposa, Dona Amélia de Leuchtenberg. Ela entregou o coração do marido, conforme seu último desejo, e até hoje o órgão se encontra preservado nesse relicário, cujo conservante é trocado 1 vez a cada 10 anos.
Recentemente, um acordo entre o governo brasileiro e o de Portugal, com a aprovação da Igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, sancionou a vinda do coração do imperador para as comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro. A viagem do relicário é um tanto preocupante, apesar das garantias de segurança. Não apenas por se tratar se um órgão humano de quase 200 anos, mas principalmente porque era desejo do falecido monarca que seu coração permanecesse na cidade do Porto, algo que foi cumprido fielmente por sua viúva. Em um país como o Brasil, onde museus são queimados e monumentos públicos depredados, a chegada do relicário gera, no mínimo, apreensão!