Conheça a piramboia, o único peixe brasileiro que respira ar e ‘vive’ fora d’água

Considerada um “fóssil vivo”, animal pertence a grupo que teve origem há mais de 400 milhões de anos

Carlos Moraes
Foto: Vincent A. Vos/iNaturalist

O Lepidosiren paradoxa, popularmente conhecido como piramboia ou peixe-pulmão, destaca-se como uma espécie fascinante de peixe pertencente à ordem dos Lepidosireniformes. Originário de águas doces na América do Sul, esse animal intriga e encanta devido à sua habilidade única de respirar ar. Presente em regiões de águas lentas, como lagos, rios e pântanos, a piramboia é uma presença notável na bacia amazônica, sendo também avistada no Peru, Colômbia e Venezuela.

Conforme explicado pelo biólogo André Neto, uma das características mais distintivas desse peixe é sua capacidade de respirar tanto através das brânquias quanto do ar atmosférico, graças ao órgão respiratório adaptado chamado pseudobrânquia. Essa adaptação permite que ela sobreviva em ambientes aquáticos com baixos níveis de oxigênio, sendo estimado que a piramboia possa permanecer na superfície por cerca de seis meses.

 Foto: Amadou Bahleman Farid/iNaturalist

O corpo alongado, revestido por escamas finas, é outra característica marcante da piramboia, contribuindo para sua habilidade de se camuflar eficientemente no ambiente aquático.

Embora capaz de sobreviver por períodos sem água, a pele desses animais pode sofrer com a desidratação. Por essa razão, quando os locais habituais, como lagoas marginais e brejos, secam, as piramboias se enterram na lama. Durante essa fase, elas entram em um estado conhecido como “estivação”, caracterizado por uma baixa atividade metabólica, revelando uma estratégia única de sobrevivência e adaptação a condições adversas.

Foto: Aquário Municipal de Santos

Em relação à alimentação, a maioria das piramboias adota uma dieta carnívora, abrangendo peixes, crustáceos, moluscos bivalves (como mexilhões e ostras) e insetos. Os jovens demonstram preferência por larvas de insetos aquáticos, expandindo sua busca por recursos alimentares, como algas e talos de vegetais terrestres, à medida que amadurecem.

Quanto à reprodução, André Neto explica que as piramboias realizam a desova em ambientes alagados, depositando seus ovos em ninhos construídos no substrato. Os filhotes, ao eclodirem, apresentam características semelhantes aos adultos, embora em tamanho reduzido.

A piramboia foi descrita pela primeira vez a partir de dois espécimes coletados pelo naturalista austríaco Johann Natterer, durante sua expedição de 18 anos pelo Brasil (1817–1835).

Johann era pesquisador do Museu de Viena e veio junto com a arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina, para coletar materiais sobre a biodiversidade brasileira, como minerais, sementes e animais.

Foto: Vincent A. Vos/iNaturalist

Dentre a variedade de espécies encontradas por ele, um dos mais curiosos foi descoberto na Amazônia. Quando os dois exemplares chegaram à Áustria, em 1837, foram examinados e descritos pelo zoólogo Leopold Fitzinger, que deu o nome de Lepidosiren paradoxa, uma mistura do grego com o latim.

Lepido (“escamas”, em grego), Siren (“sereia”, em latim) e paradoxa, de paradoxal (“contraditório, em latim”) – este último em razão da dificuldade encontrada pelos cientistas ao avaliar os indivíduos coletados.

Segundo  o professor e doutor em zoologia Domingos Garrone, alguns indígenas e caboclos amazônicos chamam a piramboia de “Tambaki-M’boya” e “Amoréia”. Em países como Argentina e Uruguai, a piramboia é conhecida como Pirácururú” e “Lepidosirena”.

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