Casal brasileiro acusado de ligação com rede de prostituição é deportado da Nova Zelândia

Redação Litorânea

Um casal de imigrantes brasileiros na Nova Zelândia foi deportado depois de o serviço de imigração local apontar que marido e esposa estavam envolvidos com uma rede de prostituição que levava mulheres ao país da Oceania para trabalhar na indústria do sexo.

A investigação se desenrolou ao longo do ano passado até que, em maio, um tribunal decidiu que o casal e seus dois filhos -de dez meses e três anos- deveriam deixar o país. Eles receberam um visto de trabalho de três meses para que pudessem juntar recursos para o retorno.

Homem e mulher, de 32 e 34 anos, respectivamente, nasceram em Salvador e estão juntos desde 2012, segundo informações da defesa do casal tornadas públicas pela Justiça neozelandesa. A mudança para o país, onde já possuíam outros parentes, ocorreu em 2016.

O processo que desaguou na deportação teve início quando o marido, que trabalhava como gesseiro, solicitou a renovação do visto, em março de 2021. Em cinco meses veio a negativa, apontando que ele não seria um candidato de “boa-fé”.

Como argumento, o setor alegou que o homem prestava serviços a brasileiras que desejavam se prostituir no país. O trabalho sexual na Nova Zelândia foi descriminalizado em 2003 para maiores de 18 anos –o país, no entanto, impede que portadores de visto temporário trabalhem no ramo, como forma de coibir o tráfico sexual.

A investigação teria acessado dados da conta bancária conjunta do casal e mensagens de WhatsApp que mostram depósitos de brasileiras com essa finalidade, ainda segundo o processo.

A defesa negou o envolvimento do casal, argumentando que a mulher trabalhava com serviços de administração para as brasileiras, mas sem implicações com a rede de prostituição. O tribunal de imigrações, no entanto, anunciou a deportação em novembro passado.

O setor de imigrações neozelandês afirmou ter iniciado uma extensa investigação em 2020 depois de uma brasileira revelar que estava trabalhando com prostituição. Daí se descobriu a rede criada para que mulheres viajassem para o país. “Uma vez na Nova Zelândia, elas trabalhariam com um administrador anônimo que indicaria onde trabalhar e quanto cobrar; ele receberia parte do lucro, que seria depositada em várias contas bancárias.”

A última tentativa dos brasileiros foi apelar à Justiça argumentando que circunstâncias de natureza humanitária pesavam a seu favor. Eles diziam que, por estarem havia tanto tempo na Nova Zelândia, não dispunham de redes de apoio ou trabalho no Brasil e que seus filhos, criados na cultura local, não teriam boas oportunidades.

Em uma carta ao tribunal, eles afirmaram que se mudaram para a Nova Zelândia porque temiam criar os filhos no Brasil, “com alto índice de criminalidade e baixas condições econômicas”.

Os argumentos da defesa listaram ainda as altas cifras de estupro, os valores das escolas particulares e as deficiências na rede pública de ensino. Diziam ainda que o sistema público de saúde “não funciona bem”: “milhares de pessoas morrem à espera de serem tratadas”.

Em resposta, o tribunal disse reconhecer o nível preocupante de criminalidade no Brasil e enumerou pesquisas que evidenciam, por exemplo, a gravidade da pandemia no país, mas concluiu que não encontrou evidências reais de que o casal pudesse estar em risco em seu país de origem.

O nome dos brasileiros não foi tornado público. Eles deixaram a nova Zelândia em 4 de agosto.

Ainda que tenha uma legislação considerada avançada na área da prostituição, a Nova Zelândia recebe críticas de ONGs por proibir que migrantes temporários tenham envolvimento com a indústria do sexo. A medida, dizem, corrobora para a exploração de migrantes e, na contramão dos motivos pelos quais foi criada, aumenta o risco de tráfico.

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