Em agosto de 2025, o litoral do Paraná registrou 1.243 encalhes de pinguins-de-Magalhães(Spheniscus magellanicus), de acordo com os dados do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), executado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR). O número chama a atenção, mas infelizmente é recorrente durante o inverno, onde a equipe multidisciplinar identifica um aumento de encalhes, principalmente de espécies em processo de migração.
O número de encalhes neste ano foi 718% maior do que o registrado em agosto de 2024, que tiveram 152 encalhes no mesmo período e o total de 453 em todo ano. “Os pinguins são visitantes sazonais do nosso litoral. Eles migram da Patagônia ao sul do Brasil em busca de alimentos, mas parte não resiste à longa jornada e aos impactos que estão expostos no oceano. Quando encalham nos dão a oportunidade de reabilitação (quando vivos), mas também são uma oportunidade de gerar conhecimento e recomendações para manejo de conservação da biodiversidade marinha”, explica Camila Domit, bióloga e coordenadora do PMP-BS/LEC-UFPR.
Onde os encalhes aconteceram
Os encalhes de agosto foram registrados ao longo de todo o litoral paranaense, com registro em todos os trechos de monitoramento, desde as ilhas em Guaraqueçaba até Guaratuba.

Encalhes por cidade do litoral paranaense. Gráfico: PMP-BS/LEC-UFPR
Além dos pinguins, também houveram registros de encalhes de outras espécies como, tartarugas-verdes (Chelonia mydas), tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta) e alguns mamíferos marinhos, como boto-cinza (Sotalia guianensis). “Cada espécie nos mostra um recorte das mudanças que acontecem no oceano. Os encalhes não são eventos isolados, eles refletem pressões ambientais, climáticas e antrópicas. Por isso, nosso trabalho é avaliar cada caso de perto”, reforça Liana Rosa, bióloga e gerente operacional do PMP-BS/LEC-UFPR.
Microchipagem: uma identidade científica
Todos os pinguins que chegam vivos ao Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde de Fauna Marinha (CReD) passam por um processo de cuidado e, antes da soltura, recebem um microchip de identificação individual. Isso permite que, em caso de novo encalhe, seja possível reconhecer aquele animal, compreender seu histórico e avaliar padrões de reabilitação.
“A leitura de microchip é feita em todos os pinguins encontrados em campo, vivos ou mortos. Esse trabalho gera uma base de dados que nos permite avaliar sobrevivência, deslocamento e saúde das aves marinhas. Cada microchip é, de certa forma, um elo entre ciência e conservação”, detalha Andressa Rorato, médica-veterinária do PMP-BS/LEC-UFPR.
O que fazer ao encontrar um animal encalhado
A comunidade também tem um papel importante para a conservação da biodiversidade marinha, que é através do acionamento. Ao encontrar um animal marinho encalhado:
- Não tocar ou tentar devolver o animal ao mar;
- Acionar imediatamente a equipe do PMP-BS pelos canais oficiais;
- Manter distância e evitar aglomeração de pessoas e animais domésticos ao redor.
Ciência, conservação e sociedade
Os dados de agosto destacam a importância de políticas públicas de conservação, do envolvimento da sociedade para redução de impactos ao oceano, e da continuidade de projetos de monitoramento e avaliação de fauna. “Cada animal que atendemos traz informações valiosas sobre a saúde do oceano. Nosso desafio é transformar esses dados em ações de conservação e em conhecimento que fortaleça a relação entre sociedade e ambiente marinho”, completa Camila.
Matéria e Informações: PMP-BS/LEC-UFPR