Polícia Civil apresenta detalhes do massacre em creche de Blumenau

Cleomar Diesel
Arquivo

A Polícia Civil de Santa Catarina concluiu o inquérito que investigou a chacina registrada na creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau. O criminoso foi indiciado por quatro homicídios com quatro qualificadoras, além de cinco tentativas de homicídio.

As qualificadoras – que aumentam a pena – foram motivo torpe, uso de meio cruel, impossibilidade de defesa das vítimas e também por elas serem menores de 14 anos. Os detalhes foram divulgados em coletiva nesta segunda-feira, 17.

Depoimentos
O delegado Ronnie Esteves, responsável pela Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Blumenau, detalhou os depoimentos colhidos durante os últimos 15 dias. Um dos principais foi da mãe do criminoso.

Ela contou que criou o filho sozinha, mas que isso não havia afetado a infância dele, que era um jovem tranquilo e respeitador. A mulher contou também que, quando ele já era mais velho, se relacionou com um homem que se tornou padrasto.

Esse padrasto no início tinha uma boa relação com o criminoso, inclusive o auxiliando a comprar uma moto e também começar a trabalhar como motorista de aplicativo – Uber. Entretanto, tudo teria mudado quando o autor do crime começou a usar drogas – cocaína.

Segundo a mãe, ele começou a ficar agressivo e paranoico, dizendo ouvir barulhos que não existiam, que estava sendo perseguido e até que o padrasto havia instalado um chip no olho dele. Devido a situação grave, ele saiu da casa da mãe e do padrasto e foi morar com o tio durante 30 dias.

Quando retornou à residência, ele atacou o padrasto com uma faca, numa tentativa de homicídio. Depois desses fatos, ele foi internado em uma clínica de reabilitação.

Nesse meio período, até o criminoso sair da clínica, o padrasto e a mãe do criminoso terminaram a relação e o homem saiu de casa. Mesmo assim, continuou sendo alvo de perseguições.

Outro depoimento importante foi de um amigo do criminoso. Segundo o delegado Ronnie, esse colega relatou que o assassino tinha um fascínio por um policial militar que ele conheceu em uma academia e que também é lutador de jiu-jitsu.

O criminoso, aliás, chegou a dizer em depoimento que esse policial foi quem ordenou o crime. Depois, porém, após comprovado que ambos não tinham uma relação, pois apenas frequentaram a mesma academia uma única vez, ele mudou as afirmações.

“Ele que fez aquilo para mostrar ao policial que também era corajoso, pois fez o que poucas pessoas fariam”, explicou Ronnie. O policial militar também foi ouvido, mas qualquer participação no crime foi descartada.

O dia do criminoso
Durante as duas semanas de investigação, a Polícia Civil conseguiu construir todo o dia do assassino, até se entregar. Os detalhes também foram divulgados, desta vez pelo delegado Rodrigo Raitz, responsável pelas investigações.

O autor saiu de casa, no bairro Escola Agrícola, às 8h03, com uma Honda CG. Ele foi em direção a rua José Fischer, uma rua sem saída e onde existiam duas unidades de educação. A intenção do criminoso primeiramente era atacar essas escolas, entretanto, ele teria desistido por conta do tamanho do muro – informação que ele deu em depoimento.

Após ficar dois minutos nessa rua, ele saiu de lá e foi em direção a uma academia, onde ficou por cerca de 21 minutos, entre 8h16 e 8h39. Aliás, ele chegou a pagar a mensalidade da academia antes de sair.

Ao deixar a academia, ele seguiu em direção ao CEI Cantinho Bom Pastor, onde, antes de pular o muro, alongou os braços, pegou as armas e pulou o muro, de 1,65m. Ele entrou na unidade às 8h49 e ficou apenas 20 segundos no local, pelo mesmo muro.

Ainda segundo a polícia, o assassino utilizou um machado tático de 42 centímetros e um canivete, com lâmina de 11 centímetros.

Ao sair da creche, o criminoso pegou um caminho inverso do que seria o mais próximo do Batalhão da Polícia Militar, onde se entregou. Ao invés de seguir direto até o batalhão, ele foi em direção ao bairro e fez toda a volta, passando pela Velha Grande, até chegar a um posto de combustíveis que fica próximo ao 10ª BPM.

No posto, ele chegou às 9h03 e ficou por dois minutos e 30 segundos. Ele comprou água e um cigarro. Na sequência, foi até o batalhão e se entregou.

Estudo e fake news
Durante a coletiva, a Polícia Civil também detalhou outras situações, como estudo do perfil psicológico do assassino, que será utilizado pelo setor de inteligência, com intuito de evitar crimes semelhantes.

Além disso, o delegado geral da Polícia Civil em Santa Catarina, Ulisses Gabriel, também comentou sobre a reprodução de notícias falsas. Ele fez um pedido para que a comunidade não compartilhasse informações que não foram comprovadas por órgãos oficiais e não divulgadas por equipes profissionais de jornalismo.

Segundo o delegado, essas “fake news” atrapalham as investigações, dão trabalho para que a polícia tenha que desmentir, além de causarem medo na população.

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